MÃE DE FAVELA
A ideia de homenagear mães de favela, é de alguma forma, explodir e externalizar o amor e gratidão que eu tenho pela minha mãe, Claudia Faria Affonso, é entrelaçar caminhos, narrativas, abraços, becos, vielas, construído por mulheres e movido por mães.
A série “Mãe de Favela” nasceu em 2019 com a proposta de retratar o amor de uma mãe favelada, registrando mães nas suas portas com seus filhos, trazendo uma narrativa individual de um amor, que independe de laços sanguíneos. As fotos da série, além de serem uma homenagem a essas mães, são uma ato político de corpas que se fazem presente e resistentes em um território majoritariamente feminino.
A série apresenta 3 edições: uma em 2019 com 14 fotos, uma em 2021 com mais 14 fotos e uma edição especial em 2022 só com mãe de LGBTQIA+ favelades.
Em 2019 fui convidado pela Redes da Maré, pelo eixo de segurança pública e acesso à justiça para fotografar mais duas mães em parceria com o núcleo de mães vítimas do estado, essa parceria resultou em uma exposição com as 16 fotos feitas em 2019 na Lona Cultural Herbert Vianna, na Maré.
Hoje a série tem 44 mães fotografadas.
2022 – Mães LGBTQIA+
Homenagear mães de LGBTQIA+ da maré, é exaltar a luta cotidiana de mãe que escolhem acolher, proteger e não abandonar, homenagear essas mães é escancarar para o mundo e acima de tudo para os territórios de favela e periferia, que a “família” é o primeiro espaço social de rejeição desses corpos, e que sim, é importante exaltar mães que encontram no amor um espaço de transformação dessas fragilidades de uma sociedade cisheteronormartiva, e dentro desse contexto que a 3ª edição do Mãe de Favela vem com mais 14 fotos que retratam narrativas de amor.
Acho que uma história que rolou durante o processo dessa edição, foi um momento de um dos registro aqui na Maré, em que eu pedi para uma mãe e um filho se abraçarem, pois eles estavam um do lado do outro apenas e a mãe olhou para o filho com um olhar se susto e ele disse “É mãe, pode me abraçar, me amar, me beijar!”, exatamente com essas palavras, e naquele momento eu entendi a dimensão que aquele registro tinha, essas mães depositam tanto amor, tanto cuidado, e às vezes uma preocupação tão grande, que roubam delas o registro do contato como afeto.
Acredito que a possibilidade do acolhimento dessas mães passa por cima de qualquer narrativa de violência que sejam resultados de ser mãe de uma criança LGBTQIA+, lembro que na minha infância eu vivi uma situação onde eu estava na porta da minha vó com meu irmão, meu primo e uma amiga, acho que eu tinha uns 8 anos, e enquanto nós brincávamos, escutei uma mulher fazendo uma pergunta para minha mãe “Você deixa seus filhos brincarem de casinha?” e na mesma hora minha mãe respondeu “Meus filhos brincam do que eles quiserem”, ali naquela situação eu e ela sabíamos que eu era uma criança LGBTQIA+, mesmo que eu ainda não tivesse discernimento para me entender enquanto sexualidade ou entender o meu corpo enquanto performance de gênero, no momento em que ouvi o tom da resposta da minha mãe, eu soube que o amor que ela tinha por nós dois, filhos gêmeos LGBTQIA+ era maior que qualquer violência que íamos enfrentar dali em diante.
Então hoje a fotografia para mim representa um espaço de resgate de narrativas e memórias, um lugar onde construo a minha arte, a partir do meu território, o lugar onde me afirmo quanto um fotografo LGBTQIA+ que pauta não só esses corpos, mas outras narrativas que me atravessam e me fazem mergulhar nas memórias da Maré quanto um favelado que pulsa arte e respira resistência. Hoje a fotografia está para mim como o principal meio de me comunicar artisticamente e de me colocar quanto pessoa pensante de novos caminhos para políticas públicas para a construção de narrativas que pautem a favela a partir de quem vive nela
A partir desta reflexão proponho começar essa sessão do site com a edição de 2022.